Jul 10, 2008

O Paraíso ... nas traseiras do Modelo

No Alentejo o final do IVº/início do IIIº milénio a.C. surge-nos como um dos momentos de maior e mais intensa ocupação humana do território. Pela primeira vez grandes massas humanas parecem concentrar-se em extensos povoados dotados de amplas estruturas comunitárias.
Damos aqui notícia da identificação de mais um destes locais de povoamento detectado no Alto Alentejo.
A identificação deste local deixa bem claro como todos, da sociedade civil aos especialistas, temos uma função na identificação e protecção do Património Arqueológico, e de como as estruturas centrais de Salvaguarda devem actuar e interagir com essa mesma sociedade civil.
O povoado da Horta do Paraíso foi identificado por Anaísa Mexia nas traseiras do Modelo de Elvas, de modo casual e não dirigido, ao observar as obras que então decorriam de recuo de um muro de sustentação de terras Este facto expôs abundantes materiais arqueológicos, e evidenciou a presença de pequenas bolsas, eventualmente de estruturas negativas pré-históricas. De imediato se comunicou aó Instituto da tutela, que procedeu em seguida de modo a minimizar as destruições e caracterizar mais aprofundadamente as afectações, presentes e futuras. Perante este facto fui contactado pelo promotor da obra, que desde o primeiro momento se mostrou altamente cooperante com os trabalhos a desenvolver.
Os trabalhos efectuados constaram da limpeza de 9m de corte onde se observavam vestígios de estruturas negativas de época pré-histórica, para além de claros estratos de ocupação que sobrepunham estas estruturas devidamente preenchidas, evidendiando diacronias de ocupação aparentemente longas.
Uma observação atenta de todo o corte da obra permitiu identificar uma ocupação que tinha em corte cerca de 100m de comprimento, ainda que pontualmente os estratos pré-históricos se reduzissem ou mesmo desaparecessem. Esta extensão foi confirmada por prospecções esparsas na Horta e inclusivamente para fora desta, permitindo identificar um povoado com vários hectares, implantado numa suave encosta de um extenso patamar que medeia entre as elevações de Elvas e as planícies férteis do Caia.
O conjunto artefactual, claramente da viragem do IVº para o IIIº milénio, era maioritariamente composto por cerâmica e abundante fauna. Na cerâmica as taças carenadas são bastante frequentes, assim como alguns bordos espessados. Os pesos de tear crescentes estão bem documentados, mas não os tipo placa.
Bem, o Horta do Paraíso parece tratar-se de mais um extenso povoado do IVº/IIIº milénio, que se localiza no centro de uma região onde está documentada uma intensa rede de povoados destas cronologias, desde os pequenos povoados de fossos (como Santa Vitória) ou com muralhas (caso do Castelo da Afeiteira), até aos extensos povoados de fossos como Juromenha 1.